Crisântemos
de Abril *, de Luís Oliveira, CanalSonora edição, 2017,
por A.Dasilva O. apresentado no passado dia 21.
Vim aqui lançar um clássico
Nada
há de mais clássico
Que
o primeiro livro
Onde
a musa lança a primeira pedra
Como
um ser vivo
não
humano mas um clone
um Outro que lhe é intrínseco
Lhe diz tens mãozinhas e pezinhos
faz-te
à vida que a morte
é
uma livraria onde se decom-põem
as centenas de
livros editados diariamente como um caso sério
De senilidade da nossa cultura, ciência e politica
Tal como as cavernas casas o livro
constrói-se com os cornos enfiados na terra
Poesia é uma flor que floresce depois de morta
A necessidade de novas metáforas para alimentar o sistema
Faz fome de dialéctica depois de falhar três vezes
e de contaminar o espírito do seu tempo com a ambrósia
das águas placentas
engarrafando-as
para dar à luz a Fénix e as suas ruínas
Nas
suas trevas
deambulamos
como gado
num aido
Bem-vindo ao mundo das trevas
Os poemas são factos desconhecidos
que dão vida ao impossível
espírito cientifico
Pois em si reúne o Poeta
a Pedra e o Bisturi
E a eles não te
atrevas
senão
cumprir a tua tarefa
da necessidade de poetas do erro sistemático
que perturbem o normal funcionamento do sistema
Só poeta Ser-hás-de
depois de negares o teu primeiro livro
Mesmo que a vida passes a escrevê-lo
A rasgar
A escrever
A rasgar
A emendar
A cortar
Até te queimares
Sem deixar resíduo
Bem-vindo ao mundo dos mortos
Um elevador chamado eu sou
Mas não sou mas se o sou por necessidade de nada ser
Sem o mal do mundo
Na ausência de gravidade
E inexistência duma só realidade, mas todas
Na tarefa de o ser
impossível senão outro
entrar em negação
deambulando bêbado de néctar e ambrósia
De boas intenções está a poesia farta
e dos seus apócrifos livros cheios de poemas insubstituíveis
Mugir as palavras
tens
A pulso deves
Mugi-las
Para lhes sacar a
ambrósia e o néctar
Também elas se cansam de nós
As palavras têm cérebro memória e medo de não serem ditas
As palavras são como cervejas fazendo da vida um inferno
Esse bolo poético (à base de
ambrósia e néctar) com a verdade em cima
Com que dás vida ao cadáver esquisito
*Crisântemos flor preferida para acampar
no dia dos mortos (e/ou fieis defuntos), nos cemitérios tem/tinha um nome de guerra , entre as floristas no mercado do Bolhão no Porto, de Salazares.